#8 - Entrevista a Ricardo Pessoa
MD: Olá Ricardo, antes de mais, deixe-me agradecer ter aceite a nossa proposta para a entrevista!
RP: De nada, eu é que agradeço
MD: Começaste a tua carreira, no modesto Estrela Vendas Novas, o que te levou a entrar para o futebol?
RP: O que me levou a entrar foi a paixão que sempre tive pelo futebol, desde miúdo. E por volta dos 9 anos entrei no Estrela Vendas Novas, clube da minha terra, e que eu tanto orgulho tenho de ter representado. Estive três anos nas camadas jovens onde o meu pai era o nosso treinador, foram anos importantes, e claro que as lições que o meu pai me deu levaram-me a crescer e a tornar-me aquilo que sou hoje!
MD: Na questão anterior referis-te o importante papel do teu pai no teu mundo futebolístico, gostavas de lhe dar um agradecimento especial?
RP: Obviamente que sim, porque ele sempre foi uma pessoa que puxou por mim, que esteve e continua a estar do meu lado independentemente das decisões profissionais que todo, não só ele como a minha mãe, e agradeço-lhes todos os sacrifícios que fizeram por mim e também pelo meu irmão. Ensinou-me muita coisa quando era criança. Os meus pais têm muita importância naquilo que sou hoje como jogador mas também como ser humano. Estarei sempre agradecido a eles.
MD: No ano seguinte, assinas pelo Vitória de Setúbal, foi o teu grande salto para o futebol nacional, num ano em que sais do Estrela e entras numa equipa grande como o Setúbal, qual foi a sensação? Como te sentiste?
RP : Foi um grande salto, principalmente para um miúdo de 12 anos, é uma realidade completamente diferente em tudo desde os campos para treinar, a roupa, as bolas, tudo era diferente para melhor, obviamente que um clube como o Estrela nao podia nos dar isso. Eu fui para o Setúbal com o meu irmão que tambem lá jogava, e sentia que toda esta mudança, me fazia sentir jogador e que era aquilo que eu queria para o meu futuro.
MD: Estreaste-te nos séniores na equipa de Setúbal, onde quatro anos depois te transferes para o Portimonense, achas que foi a melhor opção? Se tivesses optado por ficar na equipa de Setúbal a tua história seria outra?
RP: Cada dia tenho mais a certeza que tomei a decisão certa e em nada me arrependo, não quer dizer que não esteja agradecido ao Vitória, de todas as decisões que ja tomei e que irei tomar, esta é a que tenho certeza absoluta que foi a mais importante, não pela saíida do Vitória, mas por tudo o que o Portimonense representa para mim!
MD: És um dos jogadores portugueses mais fiáveis em lances de bola parada, qual é o segredo?
RP: Desde muito cedo que sempre gostei de treinar e aperfeiçoar essas qualidades, a juntar também um dom que nasceu comigo. É óbvio que continuei a treinar, e sabendo que hoje se resolve muitos jogos de bola parada, tento treinar cada vez mais porque sei que posso decidir e ajudar um colega a decidir. Acho que não há receita exacta é um pouco de tudo aquilo que referi!
MD: Para um defesa lateral foste somente expulso em uma ocasião até hoje. Dados bastante curiosos para um lateral com muitos anos de futebol, como consegues manter este feito?
RP: Curiosamente nessa expulsão até fui mal expulso, aliás, até posso contar o episódio. Acabei expulso sem fazer nada, um colega meu agrediu o adversário e eu que estava a uns cinco metros do lance acabei expulso. No fim, o árbitro veio ao balneário pedir-me desculpa, mas não me tiraram o castigo. Inclusivé, jogadores da equipa adversária, prontificaram-se para testemunharem a meu favor na liga, e nem assim me tiraram o castigo, enfim. Sempre fui respeitador com adversários e árbitros, faz parte da minha maneira de ser, da minha maneira de jogar, e é uma das coisas que mais me orgulho é deste registo, acho que é uma marca muito interessante, alías, acho que no futebol era importante existir mais respeito de todos e fair play.
MD: Para um lateral, tu marcas muitos golos, há alguma receita para ser um goleador defensivo?
RP: Muitos dos meus golos são de bola parada e digo-o sem qualquer problema, as bolas paradas são o que faz ser um defesa goleador, por isso eu disse à pouco que continuava a treinar bolas paradas porque pode ser decisivo, mas já fiz golos de bola corrida e isso acontece porque gosto de me incorporar no ataque e de tentar concretizar oportunidades que surjam.
MD: Qual a sensação de estares perto de chegar aos 400 jogos ao serviço do Portimonense?
RP: É uma sensação de grande satisfação, é ficar ligado à historia do clube, penso que é o culminar de muito trabalho de dedicação que tenho na defesa do meu clube e espero poder continuar a aumentar este número.
MD: Sempre foste muito leal ao teu clube, tens grande amor pelo Portimonense... de onde surgiu esse amor à equipa de Portimão?
RP: Claro que não era do Portimonense desde pequeno, e nem nunca me vão ouvir dizer isso, foi um sentimento que foi crescendo. Fui muito bem recebido desde o primeiro dia tanto no clube como na cidade de Portimão, esta é a minha casa e sempre será por muitos anos de cumplicidade. Apenas sai um ano visto que a situação assim o exigiu porque senão não tinha saído. O dinheiro é importante e poderia ter saído varias vezes mas a família, e o coração na hora de decidir, prevaleceu sempre o amor que tenho por este clube, o Portimonense é o meu vicio, vivo este clube intensamente. Foi o casamento perfeito. A minha família e o Portimonense são os meus dois amores. Já dei muito e continuarei a dar a este clube mas também jé recebi muito dele.
MD: Na altura do Vitória de Setúbal, antes de saíres para o Portimonense, se tivesses a proposta de um clube da Primeira Liga, assim que lutasse pelas competições europeias, qual escolherias? Portimonense ou o clube na luta pelas competições europeias?
RP: Tinha que pensar bem, na altura o Vitória ia jogar nas competições europeia, e aliás eu já tinha acordo com o Portimonense cerca de dois meses antes do fim da época, e já tinha dado a minha palavra ao treinador Diamantino Miranda e aos responsáveis do Portimonense, eu não sou de voltar atrás com a minha palavra, era algo nunca faria e nunca fiz, a minha palavra é muito importante para mim, independentemente de vir a perder algo que seja melhor para mim.
MD: O Portimonense esteve esta época muito perto de subir à Liga Nos, fez história na Taça da Liga ao chegar às meias-finais e contando com a Taça de Portugal, venceu quatro equipas da Primeira Liga (Sporting CP, Os Belenenses, Arouca e Paços de Ferreira). Que balanço fazes desta época?
RP: Acho que foi uma época bastante boa, toda a gente falou do Portimonense como não se falava à décadas, claro que agora só fica na retina o último jogo que não deu a subida, mas quem anda no futebol sabe o quanto é difícil subir. Demos tudo ao longo de onze meses, mas depois desses últimos jogos, muitos dizem que não demos tudo, claro que é errado, mas isso a nós não nos interessa nada porque quem confia em nós e esteve conosco ao longo destes onze meses sabe bem, e refiro-me ao grupo, à SAD, a todas as pessoas que trabalham no clube e também os adeptos e sócios que tiveram sempre presentes desde o primeiro minuto e que não apareceram só quando estávamos prestes a subir. Acho que estar a discutir duas competições até ao fim, sermos a primeira equipa da Segunda Liga a estar presente na meia final da taça da liga e quase subir ,é bom. Ótimo seria subir para podermos retribuir tudo o que a SAD fez por nós. Mas eu costumo dizer o que não nos mata torna-nos mais fortes, e é isso que podem esperar do Portimonense para a próxima época.
MD: Com a contratação de Vítor Oliveira (mestre das subidas) para o comando técnico do Portimonense, tens mais confiança que a próxima temporada vai ser a temporada em que vão conseguir a desejada subida de divisão?
RP: Penso que o mister de facto, tem algo de especial nas subidas, mas só isso não chega, vamos ter que trabalhar muito para no fim podermos alcançar o nosso objectivo. Vai haver uma ajuda mútua, e claro que muita gente vai olhar para nós de maneira especial por termos o mister Vítor Oliveira a treinar-nos, e isso tem que nos tornar mais fortes, porque não vamos dar nada como garantido, muito menos ele, a certeza que tenho é que exigirá muito trabalho e compromisso, na qual vamos responder sempre positivo.
MD: Ao longo destes anos enfrentaste no "um para um" imensos jogadores quer na Primeira Liga quer na Segunda Liga. Qual foram os extremos mais dificeis de marcar até hoje?
RP: Foram muitos, mas destaco João Vieira Pinto, Hulk, Gaitan, entre outros!
MD: Quando marcas um golo, qual é a primeira coisa que pensas? A quem dedicas o golo?
RP: Penso no meu filho, na minha família, e penso na alegria que sinto de marcar pelo meu clube e na alegria que dou a estas pessoas que referi, e claro aos portimonenses!
MD: Ricardo, a idade parece que não passa por ti. Podemos concluir que a tua retirada dos relvados ainda não 'paira' na tua cabeça?
RP: Não, ainda não paira, quero continuar a jogar, até porque me sinto muito bem, melhor que em anos anteriores. Mas uma coisa é certa quando achar que devo parar serei o primeiro a fazê-lo, não será necessário ninguém dizer-me quando devo parar, porque se não só me estaria a enganar a mim mesmo!
MD: Obrigado Ricardo, por esta grande entrevista, foi um prazer enorme poder tê-la realizado consigo, agradecer também à SAD do Portimonense e desejar-lhe sucesso para a próxima época.
RP: Foi um prazer falar com vocês e espero que tenham sucesso.